A empresa familiar, assim como qualquer outro tipo de organização, precisa de regras e normas para ser gerida. Entretanto, o grande desafio deste modelo corporativo é a profissionalização. A Governança Corporativa é um instrumento que auxilia neste processo.

Primeiro é importante identificarmos as vantagens dos empreendimentos familiares, a saber:

1. Possui valores e uma cultura forte. São bases desenvolvidas no núcleo familiar e são repassadas às próximas gerações. Assim, pressupõe-se que a cada geração que assume a empresa da família, mesmo que assimilando a evolução dos tempos, os valores continuam sendo os mesmos consolidados pelo fundador.

2. O sobrenome da família tem relevância na localidade onde a empresa está sediada. Este fator confere credibilidade ao negócio, pois a referência não é o empreendimento, mas as pessoas que o formaram.

3. Existe um contingente de colaboradores, principalmente os mais antigos, que são fiéis e de absoluta confiança. Muitos começaram na empresa quando de sua fundação, e ficaram por décadas, sem pensar em se aposentar. Existe uma cumplicidade entre o fundador e os funcionários mais antigos, pois são considerados como parte da família.

As desvantagens se apresentam inversamente proporcionais. São elas:

1. Embora teoricamente os sucessores se respaldem nos valores familiares, muitos, ao assumirem os negócios, querem romper com o padrão cultural vigente, o que descaracteriza o modelo organizacional aos olhos do mercado. Clientes, fornecedores, bancos, colaboradores, enfim, todos aqueles que mantêm contato direto com a empresa começam a ter uma atitude de desconfiança, pois a forma de atuação estabelecida por anos se modificou completamente.

2. O sobrenome da família continua a ter relevância, mas precisa ser respaldado da credibilidade construída pelo fundador.

3. É comum os colaboradores mais antigos acompanharem o crescimento das novas gerações, desde que eram crianças. Este fato complica a vida de muitos sucessores, que ainda usavam “calças curtas” quando estes funcionários começaram a atuar na empresa. O desafio é se tornar o “chefe” destas pessoas, além de apropriar-se da autoridade do cargo.

Portanto, é necessário modernizar a empresa familiar, mas manter sua e personalidade e seu modelo cultural. A inclusão de regras ainda na primeira geração pode permitir que as próximas não corram o grande risco de descaracterizar o modelo corporativo. Esta é a essência da Profissionalização, e isto, na empresa familiar, se resolve com Governança Corporativa.

A Governança Corporativa está calcada em um conjunto de práticas, disciplinas e instrumentos que regulam relacionamentos entre: acionistas/sócios, conselho de administração, diretoria.

A partir do momento que uma empresa insere os princípios da Governança, ela também terá, obrigatoriamente, instrumentos de prestação de contas que diminuem, significativamente, os conflitos entre parentes. Além do mais, o sucessor não poderá fazer o que quiser, pois algumas atitudes podem manchar a imagem da empresa, e diminuir sua representatividade no mercado.

É importante enfatizar que a empresa é maior que seus donos, com regras próprias, código de conduta que precisa ser respeitado, padrão de ações com parâmetros estabelecidos. As novas gerações precisam se adaptar as normas corporativas, não o contrário. São estas ações que permitem a perpetuação do sonho do fundador.

Domingos Ricca é sócio-diretor da Ricca & Associados Consultoria e Treinamento e da Revista Empresa Familiar.