“A empresa nasceu do projeto de empreendedorismo de uma família que fugiu da guerra e não tinha nada no brasil. este foi o grande exemplo que os fundadores deram para a segunda geração.”

No início dos anos 40, na cidade de São Paulo, muitos imigrantes europeus não conseguiam comprar livros. Alguns ainda não estavam habituados com nossa língua e as obras estrangeiras eram muito caras. Nesta época, Eva e Kurt Herz, que chegaram ao Brasil fugindo do regime nazista, perceberam que poderiam comprar livros importados e alugá-los para os amigos. Com o tempo, o pequeno negócio começou a prosperar e, em 1953, alugaram uma pequena sala na Rua Augusta. Ao mesmo tempo, surgiram as encomendas e a locadora tornou-se uma livraria.

Com o crescimento dos negócios, a livraria mudou-se para uma loja no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Eram os anos 60 e o filho do casal, Pedro Herz, que havia passado a infância e adolescência em meio aos livros e prateleiras, já conhecia bem o negócio. Formado em administração, assumiu a empresa. A loja virou uma espécie de complexo cultural, com teatro, espaço infantil e café.

Hoje, a Livraria Cultura é referência no mercado brasileiro com 18 lojas pelo Brasil (cinco em São Paulo; duas em Brasília, Recife e Rio de Janeiro; e uma em Campinas, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Salvador e Ribeirão Preto, além das lojas customizadas Geek.Etc.Br).

Conduzida por Pedro Herz desde os anos 60, em 2010 passou a ser administrada por um conselho que tem a participação do filho mais novo, Fábio Herz, e presidido por Pedro. Atualmente, o filho mais velho, Sergio Herz, é o presidente-executivo e CEO da Cultura.

É de conhecimento comum que a grande maioria das empresas familiares não sobrevive à segunda geração. Para explicar o sucesso da Livraria Cultura, prestes a comemorar 70 anos, Sergio Herz afirma que “a empresa nasceu de um projeto de empreendedorismo de uma família que fugiu da guerra e não tinha nada no Brasil. Este foi o grande exemplo que os fundadores deram para a segunda geração”.  

Para o CEO da Livraria Cultura, foi importante também a decisão tomada há muitos anos por ele e o irmão, o acordo para evitar discussões. Segundo Sergio, o pai não incentivou os filhos a trabalharem na livraria apenas por serem herdeiros, precisaram provar seu valor. Também citados como fatores do sucesso são as regras muito claras entre a família e o fato da empresa não aceitar parentes.

Sergio conta que outro fato que ajudou a chegar com sucesso à terceira geração foi a decisão de ter um sócio externo. “As discussões sobre o futuro da empresa ficaram mais objetivas. Isso trouxe racionalidade: um sócio que não tem a emoção da família. A gente nunca brigou por algo que não fosse o interesse da empresa. Normalmente as questões são decididas por votação e o fato de sermos três é positivo. Além disso, o relacionamento com nosso sócio externo também é bom.”  

Segundo ele, as brigas que ocorreram sempre foram visando o benefício da empresa, cada um expondo suas ideias com a máxima transparência, não existe agenda oculta.

“Às vezes, pessoas de fora vinham apresentar um projeto e os sócios brigavam na frente de terceiros. Havia algumas discussões bastante duras. Mas, como família, aprendemos a usar uma proteção. Percebemos que jamais devemos levar para casa o desentendimento. Não houve um dia em que ficamos sem nos falar. Tudo isso ajudou a levar a empresa ao sucesso”, finaliza o executivo.