Um orgulho e tradição que o atual conde Anton Wolfgang von Faber-Castell, principal representante da oitava geração da família alemã no comando da empresa, partilha com curiosos todo terceiro domingo do mês, das 11h às 17h, quando o castelo, transformado em museu, abre suas portas à visitação. Não à toa, a construção foi tombada. Em 1945, o lugar foi utilizado como escritório de imprensa durante os processos de Nuremberg, nos quais foi julgada a alta hierarquia nazista, após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

 

Parte dessa história está exposta no local, desde 27 de maio. Através de objetos, fotos, quadros e, claro, lápis e canetas, entra-se no maravilhoso mundo do grafite e da família Von Faber-Castell. Um mundo que a maioria só conhece dos estojos escolares da Faber-Castell, uma marca que tinha entre seus fãs de carteirinha um certo Vincent Van Gogh. “Gostaria de lhe contar sobre um tipo de lápis que encontrei da Faber”, escreveu o pintor holandês a um amigo, no verão de 1883. “Eles têm a espessura ideal. São macios e de qualidade superior à dos lápis carpinteiro.”

A exposição das peças históricas faz parte da celebração dos 250 anos da empresa, completados neste ano. O lançamento de uma edição limitada a 1.761 canetas-tinteiro, em alusão ao ano de fundação da empresa, também faz parte do calendário comemorativo. As unidades foram produzidas em platina e decoradas com oito facetas de jade russo, considerada a pedra da longevidade. “Cada lado representa uma das oito gerações que comandaram a companhia”, diz Marcelo Tabacchi, presidente da Faber-Castell no Brasil. De acordo com ele, a linha premium, produzida desde 2003 (leia mais no destaque ao final da matéria), utiliza apenas materiais nobres. A peça é vendida, no País, por R$ 16 mil.

Fundada em 1761, ou seja, 28 anos antes da Revolução Francesa, um dos eventos divisórios na história da humanidade, a marca traz em cada um dos objetos que fabrica essa herança multissecular. E não são apenas seus lápis de cor que carregam essa particularidade. A companhia produz mais de mil itens, que vão de giz de cera aos instrumentos e acessórios de luxo para a escrita, e, há 30 anos, passou a produzir lápis para a indústria de cosméticos, usados como sombras e batons, entre outros.

Foi se preservando e se reinventando continuamente que a Faber-Castell conquistou a posição de maior empresa de lápis do mundo e uma das mais antigas companhias familiares em atividade. “A sobrevivência a longo prazo da nossa empresa está acima dos nossos objetivos de crescimento econômico”, diz o conde, na presidência da empresa desde 1978. “O mais importante é fazer perdurar esse conceito de geração a geração.” Até aqui, pelo menos,  ele tem conseguido manter esse ensinamento,  aprendido com o fundador da empresa, Kaspar Faber (1730-1783).

Afinal, num mundo cada vez mais dominado por engenhocas de comunicação que começam com “i”, completar dois séculos e meio fabricando prosaicos lápis é um feito. “A Faber-Castell é uma companhia para toda a vida, não apenas para a escola”, afirma o presidente. A capilaridade da empresa é outro fator determinante para a sua longevidade. A marca está presente em mais de 100 países. No Brasil,  seu desembarque ocorreu em 1930. Aqui, a Faber-Castell mantém três fábricas, em São Carlos (SP), Prata (MG) e em Manaus (AM), que produzem o recorde de 1,8 bilhão de lápis por ano. “Só conquistamos esse número por termos investido desde cedo no País”, afirma o conde Faber-Castell, que comanda sete mil funcionários ao redor do mundo.

A produção da subsidiária brasileira é exportada para cerca de 70 países e já representa cerca de  40% do faturamento global da companhia, que chegou a E 528 milhões no ano fiscal encerrado em março.Para manter números tão expressivos, Tabacchi, o presidente da subsidiária brasileira,  diz que além dos valores comuns às marcas de luxo, como tradição e inovação, a sustentabilidade vem ganhando cada vez mais espaço. Essa preocupação, por sinal, não é de agora, e vem desde muito antes que o tema virasse moda.

No final da década de 1980, a Faber-Castell plantou 9.600 hectares de floresta na cidade mineira de Prata, com vistas, exclusivamente, à fabricação da linha batizada de EcoLápis. Tanto as áreas reflorestadas quanto o produto receberam o selo do Forest Stewardship Council (FSC), o maior órgão certificador de madeira no mundo. Para o conde, a paciência tem sido uma das virtudes determinantes para transformar a empresa familiar numa companhia feita para durar. Essa característica, lembra, foi herdada de seu tataravô, Lothar von Faber (1817-1896). “Ele sempre esteve determinado a chegar à posição mais elevada, produzindo só com materiais de alta qualidade”, diz Faber-Castell.

Além da qualidade dos produtos, a apresentação deles também sempre foi uma preocupação de seus ancestrais. “Assim como as boas condições de trabalho.” Tanto é que a empresa foi uma das primeiras no mundo a se preocupar com o bem-estar dos seus funcionários. Em 1844, construíram creches, criaram planos de saúde e abriram poupanças e fundo de pensão para os trabalhadores. Uma grande inovação para a época.

Por causa dessas iniciativas, o tataravô Lothar ganhou uma menção honrosa do imperador francês Napoleão III (1808-1873) – que conquistou parte da Alemanha, durante suas campanhas militares – e o título de nobreza, extensível aos seus descendentes. E, por falar neles, a nona geração dos Faber-Castell já está sendo preparada. “Ainda é cedo para Charles assumir os negócios, mas ele é meu sucessor natural”, diz o atual presidente, referindo-se a seu filho de 30 anos, o conde Charles.

 

Canetas eternas

Desde 2003, a Faber-Castell lança uma caneta comemorativa anualmente. Todas são especialmente produzidas à mão com pena em ouro bicolor (branco e amarelo) 18 quilates e corpo com materiais exóticos, como couro de arraia do Sudoeste Asiático, marfim fossilizado de mamute siberiano e madeira-cetim da Índia. Cada uma é numerada e vendida em uma caixa de madeira, com certificado de edição limitada. Os preços vão de 1.720 a 3.365 de euros.