A saída do Brasil da multinacional franco-suíça LafargeHolcim, revelada neste Estadão na quinta-feira, 22, reforça o processo intensificado, acelerado e profundo de desindustrialização do País, sobretudo nas últimas duas décadas. O fim das operações locais da gigante do cimento soma-se às debandadas de outras indústrias de peso, a mais emblemática a Ford, anunciada em janeiro.
A perda de importância da indústria, infelizmente, é fato consumado e consolidado. Em meados dos anos 1980, o setor respondia por quase metade da economia nacional (48%). Em 1996, quando o IBGE iniciou a série histórica, a indústria atingiu o seu maior patamar de participação no PIB em 2004 (17,8%). Depois disso entrou em queda livre.Em 20 anos, de 2000 a 2020, a participação da indústria de transformação (sem petróleo e minério) no PIB recuou para um patamar abaixo de 10%. No ano 1 da pandemia, o setor apresentou declínio de 4,3%, índice puxado pela atividade do segmento automotivo, além de transporte, confecção de vestuário e metalurgia.
Estudo recente publicado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) confirma a vertiginosa decadência. A análise de 30 economias – que representam 90% da indústria de transformação no mundo -, em um período de 48 anos (1970-2017), aponta o Brasil como o país que mais se desindustrializou no globo. No mesmo intervalo, aponta o Iedi, a média dos outros países teve acréscimo, ou seja, o setor (exceto o Brasil) intensificou a participação no PIB – de 15,7% para 17,3%. Ainda que se exclua a China, há certa manutenção no índice global: era 15,8% em 1971 e passou para 15,1% em 2017.
O esfacelamento da indústria nacional tem consequências diretas no emprego. Segundo o Perfil da Indústria Brasileira, da CNI, a participação da indústria de transformação no emprego formal ficou em 14,4% em 2019. Em 2006, por exemplo, era quase 18%. O dado é muito dramático, pois o setor recebe mão-de-obra muito qualificada e produtiva, com altas remunerações.
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